Feitiço — Sarah Pinborough

Feitiço — Encantadas #2
Autora: Sarah Pinborough
Editora: Única
ISBN: 9788567028057
Páginas: 248
Nota: 
Anteriores: Veneno
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Ainda acho que um dia eu ficarei traumatizada por ter estragado os contos de fadas da minha infância com versões bizarras (e curiosamente divertidas) que gente estranha adaptou para a maioridade. Tudo começa com Once upon a time (e não é um trocadilho, embora sirva) e Branca de Neve ladra, Charming pobre que pega o lugar do irmão gêmeo, até tornar Peter Pan um dos mais cruéis vilões de todos os tempos. E se já não basta esse seriado destruidor de fantasias que figura meus favoritos, entra também a série Encantadas, de Sarah Pinborough, que deixa tudo mais sinistro ainda. Bizarrice pouca é bobagem, né? Garanto que a autora tem uma coleção de almofadas com essa frase bordada.  

No segundo capítulo da trilogia, Feitiço, o foco vai para Cinderela – com personagens de Veneno se cruzando, já que é tudo um reino só. E então, para ler esse livro, esqueça tudo que você lembra da garota borralheira que dormia no pé do fogão e era escravizada pela madrasta má e suas meio irmãs mimadas. Sim, Cinderela tem uma madrasta que a faz trabalhar, que dá o que tem de melhor para a própria filha (a que continua solteira), mas isso é o básico dos básicos que Sarah decidiu seguir. Todo o recheio da história – que é bem complexo para um livro tão pequeno – é pura ousadia. E sem a alegria.  

Uma coisa que reparei ser do feitio da autora é deixar todos os personagens detestáveis. Pelo menos em uma parte da história você se irrita com alguém – seja protagonista, seja vilão. Por incrível que pareça, a única pessoa que conseguiu ser interessante em tempo integral foi a meio irmã de Cinderela, Rute, que não é chata, irritante e insuportável como sua versão da Disney. Por outro lado, quem é egoísta ao extremo é nossa suposta princesa. Ai, como Cinderela é chata. E bem safadjénha também, se me permite.   

A história também segue por um rumo bem inesperado. Sarah não faz o que o público espera dela, e esses não são contos de fadas com amor no coração e mensagem bonitinha de acreditar nos seus sonhos. E por essa razão não podemos tirar o mérito da autora pela criatividade constante. Pode não ser aquilo que você queria ler – de certa forma, eu fico bem decepcionada por ter essas histórias e personagens arruinados – mas continua sendo um desenvolvimento bastante único e bem feito.  

Vale mencionar novamente o trabalho gráfico absolutamente incrível desse livro. Não tem detalhe na diagramação que não seja de babar, a dedicação da editora em fazer esses livros parecerem contos de fada, por mais que a história fuja disso, é bem visível. E, apesar dos apesares, Feitiço é um bom livro. Bonito, bem escrito, totalmente surpreendente... Apenas não é um livro que eu gostaria de reler. E nem um livro que eu doaria para crianças. 

Beijinhos ♥