Eu estive aqui, A playlist de Hayden e livros sobre suicídio (não vou falar sobre Perdão, Leonard Peacock, prometo)

Eu fico pensando se adolescentes que consideram suicídio como uma possibilidade, costumam ler ficção sobre o assunto. Se sim ou se não, a certeza que tenho é que há uma boa leva de títulos para escolherem. Não sei se você notou, mas nos últimos anos o assunto deixou de ser um grande tabu e vários autores resolveram criar suas próprias interpretações do tema. Temos vários livros, vários personagens e uma dor em comum. Young adults precisam dessa realidade.

Nesse estilo, dois livros habitaram minha pilha nas últimas semanas. Eu estive aqui, de Gayle Forman, e A playlist de Hayden, de Michelle Falkoff, tem premissas muito parecidas. Ambos são narrados por melhores amigos de alguém que decidiu suicidar. Nos dois há um estigma de culpa e uma repetição daquela frase “Onde foi que errei? Onde foi que não vi?”. E mesmo tendo incríveis semelhanças, não posso dizer que um anula a leitura do outro.

Eu estive aqui

Autora: Gayle Forman
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580414233
Páginas: 240
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Gayle Forman já escreveu sobre morte com outra perspectiva, em Se eu ficar. Virou Best seller com isso. Porém acredito que seu melhor trabalho, até agora, seja Eu estive aqui. Nós somos apresentados à Cody, melhor amiga de Meg, que ficou na interiorana cidade natal quando a amiga foi fazer faculdade em um centro grande. Elas sempre foram a ancora uma da outra, e Cody não consegue descobrir qual foi o momento que a relação das duas desandou e Meg precisou tirar a própria vida.

Como a premissa não é suficiente para preencher um livro que não seja demasiadamente divagatório, a trama de verdade se desenvolve quando Cody herda o notebook de Meg, descobre arquivos criptografados e começa investigar a vida da amiga. A autora foi muito feliz nessa trama, pois singelamente foi propondo pequenos desafios à personagem que mantiveram um feeling misterioso, fisgando o leitor. Me fisgou. Cody vive sob suas barreiras, e quando quer descobrir o que levou Meg a fazer o que fez, é obrigada a sair e se expor ao mundo: conhecer novas pessoas que foram importantes para Meg, desvendar novos lugares e sair completamente da sua zona de conforto. Além disso, a autora também embutiu assuntos familiares e o relacionamento mãe e filha foi o ponto alto da obra – estava ali aquele amadurecimento que Gayle Forman faz tão bem.

Entretanto, cheguei a conclusão que Forman não sabe conduzir finais. Cinco livros me dá certa propriedade a respeito, não? Nessas cinco histórias que acompanhei, nenhum dos finais foi condizente e satisfatório com a ideia original e seu desenvolvimento. Acredito que não há nada pior para a leitura que isso: um final fraco. Sou muito levada pelo sentimento final e está aí porque não consigo curtir tudo que a autora escreve. Eu fiquei presa no enredo, mas cheguei ao fim com o sentimento de “isso é tudo?”. Estou me obrigando a considerar que li tudo em um só dia e isso quer dizer mais do que ficar decepcionada ao fechar o livro.

A playlist de Hayden

Autora: Michelle Falkoff
Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788581637044
Páginas: 288
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Já neste livro, a ideia proposta pela sinopse é que um amigo se suicide e deixe uma playlist para que essa decisão se torne compreensível. Porém não. Hayden tem uma overdose de álcool e remédios e é encontrado por Sam, seu melhor amigo. Ele deixa uma playlist como chave para todas as respostas, só que Sam não encara como tal, porque ele é um mero personagem e não um leitor sagaz. Somos obrigados, logo, a acompanhar o garoto a se culpar, sem vontade de esclarecer o motivo para nós que estamos lendo. Isso força a barra da paciência, sabe?

Senti como se Falkoff estava me fazendo de boba enquanto fazia seu protagonista parecer assim. Há uma forte influencia do bullying e, não muito longe do inicio, começam a acontecer fatos estranhos que mais parecem reprimendas a respeito de Hayden. Sam, no papel de cara confuso, fica aleatório nesse cenário todo e nem se esforça para buscar respostas. Isso é muito irritante, porque ele tem a playlist, tem pessoas novas, tem o notebook do amigo, mas não sabe se posicionar e fazer as perguntas. A impressão que dá é que durante o livro inteiro o personagem fica fazendo insinuações e suposições sem nunca de fato encarar os problemas, esperando que a solução caia naturalmente no colo. O que cai, mas não é legal.

Ainda assim, a temática do bullying é bem interessante. A autora soube criar empatia com Hayden só com pequenos momentos que Sam fazia flashback, e você sente o livro muito mais por ele, do que por quem conta. Você se dói por ele, se emociona por ele, sente uma profundidade poética por ele. Não por Sam. Em momento algum por Sam. Eu garanto que se houvesse uma intenção real de passar uma mensagem com as letras das músicas da playlist, seria uma mensagem bem linda.

Comentários

  1. Oi Joana!
    Engraçado que todas as resenhas que li sobre "eu estive aqui" foram negativas. Eu nunca li um livro abordando o suicídio,mas eu gostei das resenhas sobre "a playlist de hayden" e já está na minha wishlist. Sem contar que já fui no site ver as músicas e são <3 tem até the nbhd <3

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  2. Bom, tb esperei mais ser dito pelas músicas,sobre o motivo de heyden tirar a própria vida, porém sentir um vazio em relação a isto

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  3. Eu sempre leio críticas negativas À respeito de "A playlist de Hayden" mas eu gostei bastante do livro. Os motivos e as músicas poderiam ter sido melhor abordados mas eu me apeguei à história, aos personagens. Talvez por ter sentido um pouco de "As vantagens de ser invisível" (que é meu livro preferido) no enredo, mesmo sem ter nada a ver.

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