A morte de Sarai • J. A. Redmerski


Na companhia de assassinos #1
Autora: J. A. Redmerski
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9788581052571
Páginas: 255
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A morte de Sarai foi vendido como um new adult, comecemos daí. Eu sou uma leitora assídua do gênero, você já sabe. Eu leio new adults porque eles dão um calorzinho no coração, porque eles tendem a terminar arrancando sorrisos e alguns suspiros. New adults são comédias românticas absolutamente clichês protagonizadas por pessoas da minha idade. É gostosinho lê-los. Mas não é nada gostosinho ler A morte de Sarai.

Sarai era uma típica adolescente americana: tinha o sonho de terminar o ensino médio e conseguir uma bolsa em alguma universidade. Mas com apenas 14 anos foi levada pela mãe para viver no México, ao lado de Javier, um poderoso traficante de drogas e mulheres. Ele se apaixonou pela garota e, desde a morte da mãe dela, a mantém em cativeiro. Apesar de não sofrer maus-tratos, Sarai convive com meninas que não têm a mesma sorte.
Depois de nove anos trancada ali, no meio do deserto, ela praticamente esqueceu como é ter uma vida normal, mas nunca desistiu da ideia de escapar. Victor é um assassino de aluguel que, como Sarai, conviveu com morte e violência desde novo: foi treinado para matar a sangue frio. Quando ele chega à fortaleza para negociar um serviço, a jovem o vê como sua única oportunidade de fugir. Mas Victor é diferente dos outros homens que Sarai conheceu; parece inútil tentar ameaçá-lo ou seduzi-lo.
Pode parecer ridículo da minha parte esperar um história sorridente do livro em questão, considerando que a protagonista foi uma escrava sexual por 9 anos. Eu sei disso, mas ainda assim vi potencial. Não é incomum para o gênero abordar uns assuntos mais pesados, mas isso sempre é transformado numa bela história de superação, de volta por cima, de descoberta do amor, e somando essas coisas surge um livro bonitinho. A autora podia ter feito isso. Podia! É isso que mais está me afligindo.

Eu dei uma estrela para A morte de Sarai. Se ele não tivesse sido me vendido como new adult, eu teria dado duas. Quer dizer, eu não teria lido. Esse livro me incomodou. Sabe aquela expressão "infiltrou embaixo da pele"? Pois então, é. 80% do livro é ok... Até que ele deixa de ser. Chega a ser impressionante o que a autora conseguiu fazer com uma única cena (que eu nem li inteira). Uma cena só e foi pior do que as 130 páginas de Cinquenta Tons de Cinza que me obriguei a ler. Você tem uma noção do quanto isso foi tenso?

Mas explico: Sarai é uma escrava sexual desde os 14 anos. Ela tem 23. Imagina o trauma! Por mais que ela tenha se acostumado com a situação, que tenha parado de ver como uma tortura e várias outras coisas que ela afirma no avançar da narrativa (e se contradiz logo após, mas não é esse o ponto), ela foi uma escrava sexual (!) e autora deveria lidar com isso com delicadeza e tempo - principalmente porque é uma série e não precisa correr para enfiar tudo dentro de um único livro. Só que o que acontece é que a menina se apaixona por alguém que a condiciona a situações muito parecidas com a que seu abusador fazia. A narrativa se torna um misto de desconforto e excitação (que eu não entendo, mas não julgo) e, na boa, o conjunto daquilo tudo me chocou. Aquela cena é medonha, e acabou com o livro para mim. Não tem como romantizar A morte de Sarai. Se é para fazer uma comparação, isso que aconteceu me deixou na bad como a cena no filme de 50 tons em que Anastasia leva chicotadas, no final. Embora não tenha isso o que aconteceu, foi igualmente degradante.

Mas como nem tudo são flores mortas, uma flor viva é que a autora melhorou sua escrita desde Entre o agora e o nunca. Ela parou de usar termos como "anca", o que por si só já é uma glória (o único lugar que não é péssimo comparar mulher e vaca é na Índia, convenhamos). Em compensação, ela não soube fazer romance, personagens apaixonantes ou qualquer coisa que trouxesse bons sentimentos.

Talvez essa não tenha isso sua proposta inicial e entendo. Mas, ainda assim, há um certo estigma no gênero e A morte de Sarai não combina com ele. E olha, sei lá também. Cinquenta tons de cinza fez um sucesso tremendo e é outra história que me aflige ao ponto de "infiltrar embaixo da pele".

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