A playlist da minha vida — Leila Sales


Autora: Leila Sales
Editora: Globo Livros
ISBN: 9788525057549
Páginas: 312
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A playlist da minha vida parece um young adult comum. Parece uma história de high school clichê, com hierarquia social definida e uma protagonista que vive abaixo do final do triângulo popular. Mas não, é mais que isso. Com base nessa estrutura típica de livro juvenil, Sales entrou a fundo em temas realmente persistentes sobre adolescência: bullying, estratégias adaptativas, cutting, suicídio, distúrbios alimentares... Garanto que você não esperava isso com base na capa meiguinha e cor de rosa, né?

A protagonista é Elise. Ela não tem amigos. Nenhum, nem pra trocar um oi no corredor ou no whatsapp. Elise não é apenas ignorada; Ela é humilhada, feita de boba e alvo de inúmeras piadas diariamente. Como seu refugio, está o iPod. Com os fones de ouvido, ela pode fugir um pouco e não estar tão sozinha. E é nesse amor pela música que Elise acaba encontrando, bem sem querer, uma boate underground e, bem sem querer também, começa a encontrar a si mesmo.

Como eu disse antes, não parece novo. Definitivamente não parece tão espacial. Mas é - muito! Logo nas primeiras páginas, Elise conta sobre seu projeto verão: ter amigos. Ela estudou a fundo revistas adolescentes, trocou de visual, teve coragem para sentar na mesa de outras garotas no refeitório. E isso acabou num plano de suicídio que envolvia uma playlist de duas horas e alguns cortes para treinamento. Isso dói. A autora começa com tiradas tão irônicas que beiram a graça, porém quando você nota que aquilo é sério, machuca. É real. E, mais importante, isso não é ficção para muita, muita gente.

Eu me identifiquei tanto com Elise que a escrita de Sales ganhou um tempero a mais. Preferia que tivesse me encontrado em uma protagonista com uma história mais feliz, mas bem, acontece. A forma que a autora narra o bullying e como alguém se sente quando sofre é muito concreto e verdadeiro. Quando tem alguém que faz da sua vida um sacrifício todo bendito dia, tudo que você quer é ser aceito. Parece idiota, mas é verdade. Você quer que a pessoa que faz você se sentir tão mal te admire por alguma razão. Normalmente é o que você se esconde atrás. Para Elise: sua música. E seria seu momento de glória quando a escola inteira soubesse que ela tem algo de especial, que existe um lugar em Elise não apenas tem amigos, como é admirada por seu talento. Tão verdade, tão real, tão queria-eu-ter-escrito-esse-livro-para-mandar-pra-casa-daquelas-babacas-do-fundamental. Fazer o que, né?

A autora soube muito bem mesclar as atmosferas e equilibrar quando pesar a mão e quando deixar levinho como um young adult comum. Além da narrativa ser super fluida, essa sensação de que coisas boas podem vir a acontecer faz você seguir em frente com o maior afinco mesmo quando não dá para acreditar que tal coisa está acontecendo com Elise. Verdade seja dita, a escola da garota é a maior (MAIOR) reunião de imbecis por metro quadrado, chega a impressionar.

A única coisa que me incomodou é que tive a impressão que Elise nunca assistiu um filme adolescente na vida. Ela nunca leu um livro sobre high school também. A fase que ela se encontra, a tentativa de se adaptar e se conhecer... Ela discute tanto sobre isso quando é muito óbvio saber quem é ela na fila do pão. Essa paixão por música indie, o talento natural para fazer pessoas ficarem felizes com base no que escutam... Essa é Elise. Saber isso é um processo naturalíssimo para qualquer um que saiba como funciona a vida para garotas abaixo do fim da piramide social que tem uma paixão realmente forte sobre alguma coisa. 

É ótimo, de verdade. A playlist da minha vida é um livro sincero e, algumas vezes, doloroso. Ao mesmo tempo, ele consegue ser doce e divertido. A narrativa é deliciosa, muito envolvente, e se torna impossível cansar dos comentários perspicazes e irônicos da protagonista. A autora desenvolveu maravilhosamente bem os personagens, e você consegue amá-los e odiá-los com uma intensidade danada. Se não fosse pela dificuldade de Elise em enxergar o óbvio, seria um cinco estrelas com toda certeza do mundo. Não é, mas eu ainda queria muito tê-lo escrito.

Comentários

  1. realmente, a escola é o lugar no mundo onde se pode encontrar mais idiotas por metro quadrado.
    não cheguei a sofrer tanto como a personagem na minha época. na verdade não sofri quase nada nessa idade. eu apenas ficava lá do lado e pronto. as vezes alguém vinha me incomodar mas eu nem ligava muito não.
    e é quando eu vejo tramas assim que penso que para mim poderia ter sido bem pior...
    gosto de livros que falar sobre bullying e tudo o mais que cerca este universo...
    este livro parece ser ótimo mesmo, mas olha, como a capa engana a gente né ;o

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  2. Raramente leio livros assim, com um pouco de medo do que posso encontrar ali. Mas fiquei bem curiosa sobre o livro, já que trata de algo super real e que pode ser bem bem difícil para alguns. Deve ser bem fácil se conectar com a personagem. O livro parece ser ótimo e a capa me enganou direitinho, entrei achando que o livro seria sobre um "romancezinho" com um rapaz que adora músicas tanto quanto a garota ou algo do tipo hehe, beijos!

    http://alguns-livros.blogspot.com.br/

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  3. Gosto muito da profundidade a que a autora chega no livro, mesmo com uma premissa bastante batida. Acho que há temas que precisam realmente ser tratados, para evitá-los ou ao menos diminuir sua eficácia. Felizmente as pessoas estão alertando-se sobre isso, principalmente na literatura. A sinopse me agradou bastante, e a capa é fofíssima, acho que adoraria ler, sim.

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  4. Gosto de YA. Mas acho que pelo enredo e pela protagonista, não leria. Elise não me conquistou e achei ela um tanto imatura. Mas achei bom a forma em que a autora aborda um assunto tão delicado como o bullying. E fiquei bem animada com a a autora, sabendo induzir o leitor e não forçar as coisas. Elise é uma personagem bem diferente.
    Beijos Joana

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  5. Acho que rolou uma coincidência porque no dia que você postou a resenha, eu comecei a ler o livro. Adorei o começo, mas tive que parar para ler a primeira página de A morte de Sarai e, no momento, não posso voltar porque preciso ler até a última página de A morte de Sarai. É.

    Mas li até a página onde elas entram na boate e já estou devidamente encantada com o livro e sei que vou amar. A forma como ela pensa em se matar e, principalmente, o quanto ela pensa fora da caixinha - as consequências práticas que a morte vai trazer (a sujeira, a demora, a mãe X o pai) é muito coerente e... enfim. Deixa pra lá rsrsrsrs. Sei que parei na parte em que tudo muda, mas prometo voltar e ler até o final e espero continuar apaixonadinha pela história.

    Beijos,
    Ceile.

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