Amy Harmon e a síndrome do amor perfeito para pessoas imperfeitas que são perfeitas. Sacou?


Há bastante tempo atrás, eu li em alguma rede social uma recomendação do tamanho do mundo para Beleza perdida, de Amy Harmon, uma adaptação moderna de A Bela e a Fera. Eu estava numa vibe super ótima de ler em inglês e embarquei no livro sem nem pensar duas vezes. Achei bem okay. Mais de ano depois, o mesmo foi lançado no Brasil e eu recebi uma cópia. Reli. Não achei mais tãão okay assim. Ainda assim, Harmon continuava sendo uma autora para prestar atenção, e gostei da capa e da sinopse de seu lançamento mais recente, Infinito + Um. Li. É um livro bem okay. 

Uma coisa que tenho notado desde que me tornei um leitora avida de new adults é a disseminação da ideia de que fulaninhos e fulaninhas precisam ser dignos de amor para que algo aconteça em suas vidas. Nenhum personagem é daquela forma apenas porque quis, mas por ter passado por algo de sofrência transformadora que o modificou completamente e o fez indigno de amor. Por essa razão, ele é digno de amor. New adult não é algo para você tentar entender, eu sei. Essa fórmula é a mesma em praticamente todo o livro do gênero, mas poucos carregam essa mensagem com tanta força quantos os livros de Harmon. Faz você se sentir indigna de grandiosidade por ter todos os órgãos, toda a família viva e nenhuma tatuagem feita na prisão.

Para criar empatia, os autores tem perdido a conexão.

Beleza perdida é sobre o cara lindo da cidade, que volta transfigurado da guerra, e não é mais lindo. Então a doce menina da cidade, que jamais seria alvo de sua atenção se ele ainda fosse bonito, é bondosa apesar de sua aparência, e temos aí uma história de amor. O romance de Fern e Ambrose não é muito distante daquelas histórias da Disney sobre a garota nerd e o garoto popular (ou vice versa), com a diferença que só houve qualquer coisa porque suas ~situações sociais~ foram aproximadas por uma tragédia.

Parece que sou chata por pouco (nunca disse que não era), e, ao ler, temos uma infinidade de mensagens bonitas que devem parecer poesia, mas a mensagem que eu tirei do livro foi um apelo sem tamanho. Como leitor mero observador, você quer juntar o casal e os deixar serem felizes. Como leitor que quer viver as emoções junto aos personagens, é impossível - a não ser que você seja um ser muito, muito generoso (ou se iluda com isso). Você não consegue se conectar com os personagens, pois, subliminarmente na narrativa, sugere que há a necessidade de você ser especial e digno de tudo. Consegue me entender? A autora dá a entender que o romance de Fern e Ambrose só ocorreu porque ele foi para a guerra, perdeu os amigos, perdeu a beleza, e abriu os olhos para Fern, que nunca teve muitos amigos ou muita beleza, mas tinha um coração bom. Achei essa coisa toda de perfeição, imperfeição e dignidade muito cansativa. Achei balela.

Já em Infinito + Um, achei que não teria esse problema, afinal na sinopse não havia alerta de experiencia transformadora. Havia uma cowntry pop star de 21 anos suicida, e um garoto tatuado que parece o Thor que a resgata de pular numa ponte. Basicamente, mais um dia comum para leitores de new adult. O que acontece, então, é que os personagens se encontram, apesar dos pesares, e partem numa road trip fugida, já que a empresária da garota é extremamente controladora. Assim como Harmon é extremamente piegas. BTW, o casal se chama Bonnie e Clyde. Na literatura, não há coincidências, você sabe.

Na maior parte do livro, Infinito + Um não foge do estigma do gênero, sendo clichê e forçado, mas não apelativo. Só que então a gente descobre que Bonnie e Clyde tem uma similaridade muito grande em sua vida, uma coisa triste pelas quais passaram e molda seu passado, presente e futuro, também os tornam complementares. É preguiçoso por ser conveniente de um modo absurdo, mas além disso, vem lá Harmon e apela sua trama. De uma hora para outra, o casal não deu certo apenas porque se davam bem, a química natural e o feeling sempre maneiro de road trip. Simplicidade? Não aqui, queridinha. Tinha que ser aquela coisa exata que os colocava como perfeitos um para o outro. Aquele lance da dignidade para o amor volta todo. Aquela ligação entre eles acaba com a ligação com nós leitores. Achei balela também.

Ambos livros tem partes boas, tem casais shipáveis, mas forçam tanto a barra em serem poéticos e com belas mensagens que se tornam cansativos. Claro que é a minha opinião de pessoa sem paciência para histórias convenientemente reflexivas, detalhadamente moldadas e afastadas da realidade mesmo não tendo vampiros. Você pode ler e achar bonito. Eu achei okay.

Comentários

  1. Adorei seu texto! Não li os livros dessa autora, mas já notei essa tendência em vários dos outros young adult que já li... É quase que como ninguém pode simplesmente ser legal e simpático, ou mais tímido, tem que ser alguém traumatizado, ou com alguma dor escondida. Perde até a graça, né? Acho que por agora vou ficar longe desses dois livros, haha.
    Beijos!
    Isa.
    Portal dos Livros

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