Um amor de cinema — Victoria Van Tiem


Autora: Victoria Van Tiem
Editora: Verus
ISBN: 9788576863342
Páginas: 294
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Não consigo lembrar qual foi a última vez que li um chick lit que tinha cara de chick lit. Impressão minha e da minha estante ou o gênero realmente deu uma ligeira pausa? Parece que eles não são publicados mais na mesma frequência, que não tem mais os mesmos leitores aficionados, ou então as autoras não tem mais o senso de humor que dá aquele jeitinho engraçado que é obrigatório nesse tipo de trama. Tenho a impressão que todos esses livros acabam esquecendo a comédia antes do romance e perdem a identidade geral que o leitor procura antes de embarcar. Uma pequena garantia de que isso não aconteceria era escolher um chick lit sobre comédias românticas. É, claramente, impossível de se perder no principal.

A protagonista é Kenzi, uma mulher de quase 30 anos que luta pela aprovação de sua família. Por mais bem sucedida que pareça, ela nunca chega aos pés do irmão médico e da cunhada perfeita (que é melhor amiga de sua mãe). Então o jogo parece estar a seu favor quando é pedida em casamento pelo impecável Bradley, que tem a aprovação geral. Só que, bem, a vida não parece tão estável quanto Kenzi imagina, e logo é obrigada a encarar uma missão para não perder o emprego. O ex-namorado, Shane, é seu mais novo cliente na empresa de publicidade, e os dois precisam reviver dez comédias românticas para entrar em contato com a artista interior dela. Um contato que ela tinha abandonado quando teve o coração partido em mil pedacinhos.

Listas são listas e, apenas por isso, são amor. Usar uma lista como artimanha de construção de narrativa é pontuar todo o desenvolvimento da história, e garantir que as coisas não saiam do trecho estabelecido. E importante: isso funciona. Principalmente para o gênero, que brinca com a previsibilidade como essencial, ter uma lista no plot principal é fazer que tudo ande como o combinado e não haja risco da autora perder a mão. 

Esse é o grande trunfo de Van Tiem, e, arrisco dizer, também o único. O elemento que mais claramente funciona para o enredo é ter essa lista de dez filmes com cenas clássicas para forçar o casal principal a reviver. Hollywood já criou o clima para a cena, então a autora só vai lá e lhe entrega uma versão com novos nomes e cenários mais atuais. Quando isso acontece, falha um pouco na originalidade. Uma coisa seria montar o livro a partir de situações cinematográficas. Outra coisa é repetir diálogo por diálogo e construir a história inteira a ponto que feche com o que foi dito em tal filme, mesmo que pareça um grande diálogo de duplo sentido. 

Kenzi também não chega a ser uma pessoa excepcional, maravilhosa, que surpreenda o leitor e seja capaz de carregar o livro nas costas. Não é nem como se ela precisasse ter essa força toda, porém seria muito bem vindo se ela fosse uma protagonista competente suficiente para tal missão. No fundo, Kenzi é extremamente banal e mimizenta. Precisa de aprovação dos pais, de um noivo disposto a casar e ter filhos no período de um ano, que tudo vá de acordo com o cronograma perfeito estabelecido pela cunhada. É um caso muito pessoal, mas eu fui incapaz de me conectar com ela. Parece que o relógio biológico dos outros fala mais alto do que está na sua frente, e se torna irritante.

Quanto ao triângulo amoroso, tive impressão que Van Tiem fez tudo para não deixar brechas para o leitor discordar de sua escolha. De um lado temos Shane e aquelas cenas que você já conhece, com a química que você já viu no filme, e um passado romântico que foi o momento mais feliz da vida da protagonista. Do outro, temos Bradley e sua falta de personalidade. Sabe, não é preciso fazer um cara absurdamente zerado para que ele pareça perfeito. Bradley não tem defeitos, mas ele também não tem absolutamente nada que nos faça gostar dele. É uma pessoa que apenas respira na trama, e a autora nem tentou fazer um suspense ou criar uma dúvida. 

Não que os nomes dos capítulos, dispostos em sumário no inicio do livro, não tivessem entregado o final antes mesmo da primeira linha.

Parece comédia romântica, mas daquelas bem fraquinhas. Um amor de cinema não tem cena em aeroporto, o que já é um ponto positivo. Eu gostei do livro, mas só como mais um na fila. Não há nada de especial, de realmente elogioso e criativo. Um chick lit que se aproveita de comédias românticas e une a história como chamarisco para os dois públicos que, normalmente, são os mesmos. Não digo que seja leitura obrigatória para os fãs do gênero, mas se tiver oportunidade, pode dar uma chance.

Comentários

  1. aaah, sério que não tem cena de aeroporto? hahahahaha
    estou super curiosa para ler este livro. a personagem parece ser bem mimizenta mesmo, mas sei lá, a trama por trás dela parece ser divertida...
    a personagem me fez pensar o quanto nunca estamos satisfeitos com nós mesmos e com as coisas que temos.
    já torço para o Shane!!!

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  2. Gosto da ideia das listas e também gosto da situação vivida pela personagem (em relação à família). Entretanto, pela resenha fiquei com a impressão de que o desenvolvimento da história não é dos melhores, assim como a narrativa.
    Por hora, não quero ler.
    bjs

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